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A vida lá no bairro nunca foi fácil, mas eu não sou cão de me render às contrariedades. Uma vez, poucos dias depois de chegar ao bairro, uma senhora viu-me a tentar abrir um saco do lixo (juro que senti um delicioso cheirinho a osso de costeleta a vir lá de dentro, hum... que bem que ia cair no meu estômago vazio!!), teve pena de mim e atirou-me um bocado de pão que eu engoli, agradecido.
A partir daí fui aprendendo a procurar comida nos sacos de lixo e a partilhar dos pedacinhos de pão que uma velhinha simpática deita num cantinho todos os dias para as pombas. Mas ainda não consigo perceber bem o ser humano. Aproximo-me sempre da mesma forma, a abanar a cauda e de cabeça baixa, na esperança de receber uma festa ou uma goluseima, mas enquanto alguns sorriem e me dizem palavras carinhosas, outros respondem com pontapés, atiram-me pedras que me magoam e chamam-me "vadio"....
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A pior parte é quando os humanos lhes põem as trelas e os levam para casa e eu fico sozinho e me preparo para passar a noite enrolado no cantinho mais abrigado do Parque, debaixo de um arbusto. Quando está frio lembro-me muitas vezes do quentinho da minha mãe e dos bons tempos em que dormia no meio do pêlo fôfo dela... Quem me dera um dia ter a minha própria família, alguns amigos para brincar e humanos que me fizessem carinhos e me dessem uma cama quentinha para dormir... Não custa sonhar não é?
Os meus melhores amigos são a Cuca, a Kali e o Doc. As meninas que cuidam deles também são boazinhas, fazem-me festas e até me tiraram fotografias na última sessão de brincadeiras que tivemos. Na hora da despedida vejo nos olhos delas a mesma tristeza que fica nos meus...Desta vez disseram "Até à próxima Benny, pode ser que da próxima vez que nos vejamos seja para te levar para uma família..." Fiquei a pensar nestas palavras até agora... E é a pensar nelas que vou adormecer... "
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Maria Pinto Teixeira
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"...nós frustramos o desejo mais fundamental de todos do animal - o de viver" David Cowles-Hamar
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